segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ego

Primeiro conto uma anedota, porque penso que mais facilmente entenderão o final da estória de que vos quero falar. Obviamente , todos os nomes e factos desta anedota são inventados.
O Freixo de Espada à Cinta Futebol Clube queria inaugurar o seu campo relvado e a nova bancada para 2000 pessoas. Lembraram-se de convidar o Benfica para abrilhantar a festa com um jogo de futebol amigável e, como o Freixo de Espada à Cinta Futebol Clube é a filial 37 do Benfica, este aceitou. No grande dia, o dia do Jogo, as bancadas estavam repletas de gente, havia um ambiente de festa. As equipas entraram em campo sob um nevoeiro tremendo. Lá escolheram o campo, cada equipa tomou o seu lugar no terreno mas, mesmo antes de começar a partida, o árbitro chamou os 2 capitães de equipa e disse-lhes :” O nevoeiro é tanto que só temos uma visibilidade de 2 metros, proponho que desçamos até às cabines e esperemos algum tempo até que o nevoeiro levante” . Assim fizeram as 2 equipas, enquanto nas bancadas a festa continuava. Confraternizavam os jogadores das 2 equipas (não é todos os dias que o Benfica vai jogar a Freixo de Espada à Cinta) quando alguém dá por falta do Arnaldo. O Arnaldo era o Guarda Redes do Freixo Futebol Clube. Onde está, onde andará...até que alguém perguntou se terão dito ao Arnaldo que o jogo nem iria começar. Tozé, o capitão da equipa, sobe ao relvado e dirige-se à sua baliza. Lá estava o Arnaldo debaixo dos postes em atitude felina. O Tozé diz-lhe: “Ó Arnaldo desculpa lá, estamos nas cabines há 15 minutos, o jogo nem começou por causa do nevoeiro e o pessoal não te avisou”. O Arnaldo só lhe repondeu: “ Eu bem que estava a estranhar o massacre que estávamos a dar ao Benfica... ainda não tinha feito nenhuma defesa”.

No início da década de 80, trabalhava eu na Shell, fui, como todos os dias, apanhar o metro na Estação do Marquês de Pombal. Estava um dia de chuva, feio, mas era um dia como outro qualquer. Estava eu na plataforma à espera do metro e reparei que toda a gente que passava olhava para mim. Sentia-me lindo. Havia naquela altura um anúncio na TV, a um sabonete, com a voz da Ana Zanati, que ela dizia “quando vc se sente bela, os outra acham-na ainda mais bela”..e eu lembrei-me que naquela manhã tinha gostado do que tinha visto ao espelho, por isso, e fazendo fé nas palavras da Zanati, o pessoal estaria todo a achar-me ainda mais belo. Cheguei a temer que o meu ego, de tanto crescer...rebentasse. Estávamos nisto quando chega o metro e eu para entrar na carruagem tive que fechar o chapéu de chuva. Tinha estado 10 minutos na estação do metro de chapéu de chuva aberto. Não admira que toda a gente olhasse para mim, mas não houve 1 pessoa que se chegasse perto e me tivesse avisado de tal anormalidade...provavelmente com medo, um tipo com chapéu de chuva no metro só podia ter fugido do Júlio de Matos.

Ontem, vou a entrar num Centro Comercial, chuvia, e um velhote entra no Centro de chapéu de chuva aberto. Eu dirigo-me ao velhote e alerto-o para a situação, facto que ele me agradeceu muito. Depois começei a pensar ...e acho que não o devia ter feito.

O Arnaldo sentiu-se o Vitor Baía de Freixo de Espada à Cinta, durante 10 minutos.
Eu, senti-me o Richard Gere de Carcavelos, durante 10 minutos.
...e não dei a hipótese ao velhote de se sentir o Robert Redford de Oeiras...nem que fosse durante 5 minutos. Isto não se faz...

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