segunda-feira, 31 de março de 2008

A Verdade das crianças...

Ainda me lembro da minha primeira “verdade de criança” que me custou um castigo e, pior que isso, ter que dar o dito pelo não dito. Teria os meus 4 ou 5 anos, vivia com os meus tios e eles tinham uma vida social muita activa. Havia festas lá em casa e íamos a muitas festas em casa de amigos, era no tempo em que não havia Televisão (acho que na Madeira só chegou em 71, ou 72 ). Nesse grupo de amigos dos meus tios, havia uma senhora com que eu embirrava solenemente, e numa dessas festas, quando a dita senhora chegou, eu recusei-me a beijá-la. “Porque é que não dás um beijo à Dona Fulana”, perguntava minha tia já com cara de “generala”...e eu nada. Começou minha tia a insistir, meu tio meteu-se ao barulho...toda a gente se calou para apreciar melhor a birra do puto (eu) ..e foi quando todos se calaram que falei eu. “Não lhe beijo porque ela é feia”. O que eu fui dizer!!!!. Já não me lembro bem se era feia ou não, eu embirrava com ela porque ela vinha sempre cheia de uma maquilhagem excessiva, principalmente a cara tinha demasiado creme, e cada vez que a beijava parecia que tinha acabado de beijar uma lata de banha de porco, ficava lambuzado, aquilo enojava-me, e ela quando retribuía ficava eu com um desenho perfeito de uns lábios numa das minhas bochechas. Como não sabia explicar tudo isso...saiu-me o tal “Porque ela é feia”. Tentei simplificar e lixei-me. Entrou logo a disciplina militar em acção. Pede já desculpa à Dona Fulana, e eu a muito contra gosto, lá pedi desculpa àquela lata de banha ambulante. Depois ...bem, depois tinha que vir a humilhação: “Diz à Dona Fulana que ela é bonita”...e custou-me muito, mesmo com 4 anos, ter que dar o dito pelo não dito...ou seja, ter que mentir. Mas menti, e disse à Dona Fulana que ela era bonita.

Este episódio fez-me lembrar mais uma história do tal “amigo” italiano ( eu chamo sempre “amigo” a quem cito). Perante o Dr. Juiz uma Senhora apresenta queixa de um homem pelo facto de ele lhe ter chamado “camela”. O Dr. Juiz, dá um sermão ao homem dizendo que ele efectivamente não pode, pela lei, chamar camela à senhora, que é proibido e que tem que o multar. Então, o homem pergunta ao Dr. Juiz se chamar Senhora a uma camela é proibido por lei. O Dr. Juiz diz-lhe que não. Nesse momento, o homem volta-se para a queixosa, e inclinando-se ligeiramente chama-lhe “Senhora”.

Como eu gostaria de ter conhecimento desta história há 44 anos atrás.... Ter-me-ia voltado para a Dona Fulana e ter-lhe-ia chamado: Bonita

sábado, 22 de março de 2008

Amigos e Dicas

Primeiro vou-vos contar uma história, que o tal meu amigo que era jornalista e escritor escreveu, e que tem a ver com a importância de certos amigos. Provavelmente já toda a gente a conhece, mas mesmo assim contarei.
Numa pequena rua de Roma, onde existiam apenas restaurantes, o primeiro restaurante dessa rua, e para publicitar a sua casa, colocou um cartaz onde dizia “ O melhor Restaurante de Roma”. Claro que o segundo restaurante não fez a coisa por menos e colocou um cartaz dizendo “O melhor Restaurante de Itália”. O terceiro, já com a mania das grandezas, e porque não queria ser ultrapassado colocou no seu cartaz “O melhor Restaurante da Europa”. Obviamente que o quarto restaurante se mandou para fora de pé, e megalomanamente colocou num cartaz “O melhor Restaurante do Mundo”. Tudo estaria bem se não houvesse um quinto restaurante que ficava no fim da rua, e que por via de toda esta publicidade, começou a perder clientela. Mas o dono tinha um amigo, que trabalhava numa coisa que se chamava Marketing e Publicidade, e decidiu pedir-lhe ajuda. Chamou-o explicou-lhe o problema, disse-lhe que tinha pensado colocar um cartaz que diria que o seu restaurante era o melhor restaurante do Universo, mas que achava a ideia um pouco idiota e que por isso estava desesperado, provavelmente teria que fechar o estabelecimento porque não sabia o que fazer. O amigo publicitário acalmou-o e disse que o problema era de fácil solução. Bastaria colocar um cartaz com o seguinte “ Este é o melhor Restaurante desta Rua”.

Por volta dos meus 17 anos, tinha um amigo cujo pai era fotógrafo, desses que também fazem casamentos e baptizados e que nos dava as tais “dicas” importantes. Dizia-nos (eramos 3 ) esse nosso amigo: amanhã há um casamento com 170 pessoas (tinha que ter mais que 120) na igreja de S.Pedro e o copo de água no Jardim do Sol (já não me lembro dos nomes dos restaurantes e dos hoteis). Nós os três vestíamos os nossos únicos fatos colocavamos gravata e lá íamos para a igreja. Tínhamos que ir à igreja para ouvirmos os nomes dos noivos quando o padre dizia, e eles repetiam os votos de amor eterno: Eu, João Paulo aceito..... e eu Ana Cristina blá blá. O trabalho da igreja estava feito. Depois íamos no carro do pai do Ivo (que já tinha carta) seguindo o cortejo, buzinando, até ao local do comes e bebes que era o nosso objectivo principal....comer e beber à borla. Misturávamo-nos com o pessoal, a uns diziamos que eramos amigos do noivo ( ou seja do João Paulo) a outros que eramos primos da Ana Cristina ( a noiva não podia ter amigos)...e no final até dançámos com as verdadeiras amigas do noivo e primas da noiva. Foi um casamento espectacular. Ouve segunda dica, e lá fizemos tudo como sempre...igreja, cortejo e chegámos ao sítio do comes e bebes. Já estávamos alegres quando fomos confrontados com o noiva e a noiva em simultâneo...e claro fomos desmascarados como penetras. O noivo, como não queria problemas no dia mais feliz da sua vida, foi buscar uma garrafa de whisky “Vat 69” e disse-nos para irmos celebrar para outro sítio. Ainda lhe dissemos: um bom Vat 69 pra vcs também...logo à noite, e viemos embora. Não comemos nem dançámos...mas apanhámos uma grande bezana. A terceira e última vez...tudo igual, dica, igreja cortejo...só que foram tirar fotos para o Jardim do Museu das Cruzes e aquilo nunca mais acabava. Nós queríamos era beber e comer. Lembro-me que a festa era num hotel, já não sei qual. Entrámos havia uns empregados a servir umas bebidas foleiras, tipo espumante e sumo de laranja...e quando demos por nós estão a chamar para o jantar. Ao entrarmos para a sala, um senhor de laço pergunta-nos o nome para nos indicar a mesa. Era jantar com lugares marcados. A mesa? Perguntámos nós. Então o João Paulo (?) não lhe disse que nós não vínhamos jantar, só cá viemos dar-lhe um abraço e desejar-lhe felicidades, é que ainda temos outro casamento, temos que ir. E fomos, para a Concha comer um picadinho e beber uma imperial.

Outro amigo e outra dica era-nos dada por um rapaz que trabalhava na recepção de um hotel: hoje chega um grupo 6 suecas. Eu com 17 anos e o Toni com 24 lá nos vestíamos à pipi e íamos para a recepção do dito hotel esperar pelas suecas para servir-lhes de “guias e intérpretes”. Confesso que só fui uma vez. O Toni como era veterano, e nisto a antiguidade é um posto...escolhia primeiro. Escolheu e calhou-me a amiga que era sempre menos bonita. A dele era efectivamente sueca, a minha era checoslovaca que vivia na Suécia. Fomos jantar, discoteca...e claro, fomos para o hotel. Era a minha primeira internacionalização. Resumindo....fui completamente trucidado por aquele vulcão de 25 anos vindo do frio. Em linguagem futebolística podia dizer que já perdia por 5 – 0 ao intervalo. Rapidamente verifiquei que aquela checoslovaca tinha muito mais de vaca que de checa.
Estes são alguns exemplos da verdadeira utilidade dos amigos: dar dicas. Há quem diga que os amigos verdadeiros são aqueles que nas subscrições assinam em primeiro lugar para oferecer uma coroa de flores. Eu prefiro os outros os que me dão dicas em vez de coroas de flores

terça-feira, 11 de março de 2008

Paixão eterna

Teria uns 7 anos quando fiz a minha primeira promessa de paixão eterna. Ela chamava-se Helena, e foi num quarto da Pensão Fernandes no Porto Moniz. Eu vivia com meus tios, ela com os pais, e fomos ali passar um fim-de-semana para que os nossos encarregados de educação pudessem pescar e as senhoras pudessem fazer tricô. Tivemos direito a um quarto só para nós, com duas camas, mas só para nós e parecíamos um casal de verdade. Queria que adormecêssemos de mão dada, mas ela necessitava saber se eu estava com boas intenções, e eu claro, prometi-lhe casamento, filhos (penso que chegámos a discutir o futuro dos nossos netos) e obviamente prometi-lhe paixão eterna. Num quarto da Pensão Fernandes, a paixão eterna durou uma noite, mas dormimos de mão dada. Uns 3 ou 4 anos mais tarde voltei a fazer a mesma promessa. Ela era minha vizinha, chamava-se Maria João e eu queria o meu primeiro beijo, à séria...à filme, à foto novela da Corin Tellado, ou seja ...na boca. Havia um anexo na minha casa onde uma das empregadas tratava da roupa, levei a Mª. João para lá e, obviamente, prometi-lhe paixão eterna. Naquele anexo, a paixão eterna durou 30 segundos mas tive o meu primeiro beijo. Era muito difícil termos namoradas. Eu estudava no Externato Nun’ Alvares (mais conhecido pelo Caroço) que era só para rapazes, e a 100 metros ficava o Colégio Apresentação de Maria só para raparigas. Bem que as víamos passar com os pais...mas pouco mais podíamos fazer.
Dá-se o 25 de Abril, e foi a revolução, não a dos cravos, a dos corações. Em 1974 vou para o antigo 6ª ano do Liceu e... eram aulas mistas. Era à “fartazana”. Nunca mais prometi paixões eternas, mas aprendi que é necessário prometer qualquer coisa a uma rapariga/mulher: seja amor, felicidade, fidelidade, divertimento, prazer.... só mais tarde descobri que carros e jóias também servem. Enfim caprichos. Em 77 venho para Lisboa para a faculdade e lembro-me de ter chegado atrasado à minha primeira aula. Bati à porta e entrei...entrei no paraíso. Era uma turma com 28 raparigas e 2 rapazes...eu era um deles. Acho que só de ver ...tive um a congestão. Foram tempos loucos. E lá fui eu de promessa em promessa até que houve uma, a quem lhe prometi o que prometia a todas as outras, mas que passado uns tempos me pediu que essas promessas passassem para um papel e fossem assinadas numa qualquer conservatória do Registo Civil de Almada. E eu assinei. Foi há mais de 26 anos, e continuo a respeitar essas promessas.
Tudo isto me faz lembrar o tal meu amigo que dizia “ A grande diferença entre um capricho e uma paixão eterna, é que o capricho dura mais tempo” ...no meu caso dura há 26 anos, mas já há o outro amigo que já me vai avisando: cuidado, dura enquanto dura dura...