sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Mentira

Tinha eu uns 6 anos quando disputei a minha primeira batalha da argumentação. Convém lembrar que estávamos em 1965, e que os temas destas batalhas mudavam com a idade. Começavam com o tema “o meu pai é melhor que o teu” (tema desta minha primeira batalha), passávamos para “a minha é maior que a tua” e depois finalizávamos, pelos 12, 13 anos com “a minha namorada é mais linda”. Nos nossos dias só há um tema: o meu computador é melhor que o teu. Só muito mais tarde surgiam os temas importantes, como “o meu carro anda mais que o teu”. Esta minha primeira batalha teve como adversário o Francisco, e a verdade é que não me lembro muito bem como começou nem como decorreu, mas nunca mais consegui esquecer como acabou. Lembro-me, como se fosse hoje, da frase com que arrasei o pobre do Francisco: “e o meu pai tem uma pistola que até deita casas abaixo”. Deixei-o sem argumentação, não precisei da opinião dos nossos colegas que assistiam a esta batalha. Não ganhei aos pontos, ganhei por KO argumentativo. Foi o que pensei. Como estava enganado. Mal sabia eu, que por via desta frase, iria sofrer a única humilhação pública de toda a minha vida. Passados 2 dias deste suposto massacre argumentativo, meu pai chegou a casa, chamou-me, e disse-me: “com que então eu tenho uma pistola que até deita casa abaixo!?”, e contou-me como tinha sabido. Nunca imaginei que o meu pai conhecesse o pai do Francisco, e quando soube disto vi que afinal seria, não só derrotado, mas humilhado. Já nem ouvi a lição de moral que meu pai me deu sobre a mentira. A grande lição estava para vir no dia seguinte, já estava certo disso. Mal cheguei à escola vi o Francisco, e reparei no ar triunfante que exibia. Ele, mal me viu, chamou o resto da rapaziada e começou: “o meu pai falou com o pai do Nuno e afinal ele não tem uma pistola que deita casas abaixo, foi tudo mentira”. Foi a humilhação completa. Ainda pensei mudar para o argumento “ a minha é maior que a tua” mas não estava seguro que pudesse ganhar, ou para o argumento “ a minha namorada é mais linda”, mas estava “solteiro” naquele momento e não me atrevi a mentir mais. A partir daquele dia o meu relacionamento com a mentira mudou completamente, passei a ter medo da mentira, a ter medo de ser desmascarado. Em simultâneo, aquela mordidela que me deu a mentira parece que, a exemplo do Homem Aranha, me deu o “Super Poder” de detectar mentirosos. Quando oiço um tipo que tem um Renault Clio cuja velocidade máxima é 160 kms/ h a gabar-se “ este, na minha mão, já deu 190 kms/h” dou comigo a pensar “sim, sim..e teu pai tem uma pistola que até deita casas abaixo” . Quando oiço um tipo, que ao fim de 3 cervejas e 2 whiskies fica bêbado, gabar-se no dia seguinte “ ontem foi uma de caixão à cova, foram 2 grades de cerveja e uma garrafa de whisky”, lá dou comigo a pensar “pois, e o teu pai tem uma pistola que até deita casa abaixo”. É esta nossa mania de arredondar para cima. Nunca ouvi o tipo do Renault Clio dizer “ este gajos da Renault dizem que o carro dá 160 Kms/h mas na minha mão nunca consegui que chegasse aos 150”, ou “ ontem ao final de duas cervejas e um whisky fiquei bezano “. Não. A nós não nos basta ter a pistola, é necessário que ela deite casa abaixo.

Sou um amante do paradoxo. Um dos mais belos que conheço tem a ver com o deliberado erro de proporções.... Marco Aurélio num final de tarde, relaxando nos jardins do seu palácio e ouvindo o canto de um pássaro disse “Quisera ser um rouxinol, mas Deus fez-me um simples Imperador”. Eram outros tempos, não havia Renaults, nem pistolas....

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Sporting

Este meu Sporting é um paradoxo do catorze, tem um jogador que não queria ser futebolista, queria ser judoca, já era cinturão negro aos 17 ou 18 anos, sonhava representar o seu país nos jogos olímpicos, como judoca, mas o pai obrigou-o a ser futebolista. Segundo ele, até chorou nesse dia. Já afirmou em entrevista que não gosta de futebol, não vê nenhum jogo na televisão. É um dos melhores jogadores do Sporting e chama-se Vuksevic. Temos um outro jogador que teima em ser futebolista, mas que afinal deveria ser basquetebolista (tem 1.93m de altura) que não sabe dar um pontapé na bola, que marca golo quando a bola, por mero acaso, lhe bate na carola. Devia ficar parado na grande área, tipo poste de electricidade, à espera que alguma bola lhe bata e entre na baliza adversária. Quando se mexe só atrapalha. Chama-se Purovic e custou 2 milhões de €. Já estou como o Scolari: e o burro sou eu!!??

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Luciana

Confesso que sou um consumidor das revistas FHM e Maxmen. Sou-o em 2ª mão, porque meu filho é quem as lê primeiro,mas sou, e como tenho um filho com 20 anos, posso inclusivamente usá-lo como desculpa no caso de ser apanhado por minha mãe ou minha sogra a cometer o “pecado” de estar a ver uma “revista com mulheres nuas”. Não esqueçam, que eu sou da geração que viveu toda a sua juventude com o trauma (que me marcou para o resto da vida) de viver num país que não tinha “categoria” para ter a sua própria edição da Playboy. Ou seja, esse tal Hugh Hefner achava que Portugal não tinha mulheres com beleza suficiente para preencher a capa das revistas durante mais que 3 ou 4 edições. Na década de setenta a ideia que esses tipos tinham da mulher portuguesa é que ela tinha bigode. Pois agora Sr. Hefner, não temos, nem queremos, ter a Playboy portuguesa, mas temos duas, repito duas revistas que todos os meses nos apresentam belos exemplares femininos, nados e criados aqui no burgo (claro que não dizemos ao Hugh que são quase sempre as mesmas, a Merche já apareceu 47 vezes, a Diana chaves outras 30, com irmã e sem irmã...a próxima será com uma prima, a Liliana Santos, a Matadinho..e mais umas quantas).
Acontece, caros amigos, que em Fevereiro se dá a transferência do ano no mundo editorial: a Luciana Abreu transferiu-se da TV 7 dias para a FHM...e logo para a capa. Uma lufada de ar fresco. Para quem não sabe, a Luciana Abreu é quase a mesma pessoa que fazia de Floribela (aquela personagem atrasada mental, que vestia de um modo atrasado mental numa novela de atrasados mentais). Digo “quase a mesma pessoa” porque a nova Luciana tem mais 2 kilos.... de silicone. Abençoados kilos. Nessa edição da FHM, aparece-nos uma Luciana sensual, madura, bonita, boa como o milho.
Li, passados 3 dias, que a SIC a tinha despedido pelo facto de ela ter aparecido “naquela figura” na FHM. Não sei quem a despediu, mas posso calcular. Foi a mulher do Director de Programas da SIC... por pura ciumeira. Podem vir agora com a argumentação que a Luciana com este novo “look” já não é querida pelos miúdos. Eu gostaria de fazer o seguinte teste: agarrava num puto de 10 ou 11 anos e mostrava-lhe duas fotos, uma com a Floribela e outra com a Luciana Abreu na capa da FHM, e gostava de saber qual delas ele gostava mais. Se dissesse que era da Floribela, e fosse meu filho, levava logo um par de galhetas e estava no dia seguinte no consultório de um psicólogo qualquer. De pequenino é que se torce o pepino...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Amor

Numa das muitas viagens que fiz à Madeira, uma noite, ainda antes do jantar, e na companhia de J&B, eu e o “amigão” Joaquim da Luz, (que para além de pintor, também é filósofo quando quer) falávamos sobre o amor.... que Platão devia estar a dar voltas na campa, já que o “seu” amor , o “amor platónico”, estava a ser substituído pelo “amor virtual”, que no fundo ambos se distanciam da realidade e se misturam com a fantasia,..blá blá....etc. etc.

Fomos jantar à Marina do Funchal a uma pizzaria de uma amigo e calhou, puro destino, que quem servia a nossa mesa era uma rapariga muito bonita. Ela ia e vinha, e eu não deixava de olhar para a mulher e, de cada vez que ela passava, eu fazia um comentário sobre ela (abonatório, obviamente) ao meu amigo Quim. Ele foi ouvindo, pensando que quem falava já era mais o nosso amigo comum J&B mas, chegou um momento em que ele, depois de mais um piropo meu em relação à rapariga, me disse: “Parece que o marido também está muito satisfeito com ela”. Isto é, o Joaquim, educadamente, deu-me uma informação: a de que ela era casada... e que, pelos vistos, o marido estava satisfeito com ela. O que ele não adivinhou foi que eu não queria aquele tipo de informação, queria exactamente a informação contrária. Queria saber se “ela estava muito satisfeita com o marido”, porque como dizia um outro “amigo”: “A necessidade de amor neste mundo é tanta que algumas mulheres amam até os próprios maridos”. Eu só queria saber se ela era uma dessas mulheres....

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Frank Muller

Quem não se lembra daquela velha anedota em que o puto entra no talho e diz “ Sr. Manuel quero 100 escudos de carne para o cão.... mas da boa, porque da última vez o meu pai sentiu-se mal” ?
Isto serve para caricaturar o país que vivemos, ou seja, não só vivemos acima das nossas possibilidades, mas em alguns casos, gostamos de demonstrar que vivemos. O “desgraçado” que “só” vive acima das suas possibilidades porque quis uma casa com mais uma assoalhada, que tem um plasma e um home-cinema de último grito, uns electrodomésticos tipo hotel 5 * etc., etc. e que, por isso, 90% do seu rendimento é para pagar as várias prestações das dívidas, não demonstra no seu dia a dia que vive acima das suas possibilidades. Pode gabar-se no emprego, mas à primeira vista não demonstra. Depois há os outros, aqueles que, para além de tudo o que foi dito antes, têm que demonstrar para o “exterior”... são os que compram (com os restantes 10% do rendimento) pólos com crocodilos com medo da água, que à primeira lavagem o pólo sai da máquina sem o “bicho”...têm o carro “turbo” (ou “turbulento”) , os óculos Prada da Feira de Carcavelos, o Rolex (ou Lolex) de ouro (ou dourado)....etc etc. Confesso que embirro mais com estes que com os primeiros.

Acho que tudo é uma questão de prioridades na vida. Eu se tiver dinheiro e me apetecer comprar a Lacoste, compro, mas compro a verdadeira com crocodilos que gostam da água...como deve ser (mas se tiver que escolher entre o polo e livros e DVD's, não compro o polo). Prefiro gastar dinheiro a viajar que a comprar Rolexs em ouro ( para além de que fica mais barato) etc. etc.
Há uns dias, um grande amigo esteve na China . Quando chegou ofereceu-me algo fantástico: um relógio Frank Muller. Eu que não percebo nada de relógios, vim a saber que o Frank Muller mais barato custa mais de 10.000 € (valor que eu jamais, em tempo algum, gastaria num relógio). Aquele que o meu amigo me ofereceu, e segundo as suas próprias palavras, é tão perfeito que até parece verdadeiro.

Agora, estou no dilema, ou me “transformo” num daqueles “profissionais” da Feira de Carcavelos que acabo de criticar e uso o relógio, ou faço infeliz o meu amigo e não o uso. Para já resolvi o problema: só uso o Frank Muller quando sei que vou estar com o meu amigo...

"Flagra"

A maioria dos meus amigos, sejam eles reais ou virtuais, sabe que sou um cinéfilo, principalmente de cinema asiático, mas não só. .. aproveito para “publicitar” 2 Bloggs (como se alguém lesse o meu!!!) sobre este tema:
www.shinobi-myasianmovies.blogspot.com/ (do meu amigo virtual Jorge Soares ) e o http://cineasia.blogspot.com/ (principalmente os Posts da Helena F.), o que a maioria não sabe é que sou um cinéfilo de “trazer por casa”, ou seja, não vou ao cinema, vejo os filmes em casa nessa maravilhosa invenção que é o DVD. E porque é que não vou ao cinema, sendo cinéfilo? Porque não gosto de horários. Não gosto de condicionar toda a minha vida por horários, e então tive que seleccionar aquelas “actividades” em que me é impossível modificar as horas a que tenho que estar presente. São principalmente duas: os encontros combinados (não faço ninguém esperar por mim...mas dificilmente espero por alguém mais que 15 minutos) e o futebol. Pois é, o futebol que, tal como o cinema, tem horários rígidos, e eu também gosto muito de futebol . No futebol não se coloca o problema da ida ou não ao estádio, “podias ver em casa, na TV” dizem vcs, pois podia...mas seria sempre às 19:45h...então prefiro ir ao estádio. No cinema é diferente. No cinema o filme começa às 21:30...,mas em minha casa começa às horas que eu quero no dia que eu quiser, com quantos intervalos me apetecer. Guardarei as minhas saídas culturais (com hora marcada) para as minhas idas ao teatro...
Tudo isto vem a propósito de um comentário que eu fiz, a um Post da Helena, no Cine Ásia, sobre o novo filme do Ang Lee “Lust, Caution (Se jie)” que estreou esta semana em Portugal, mas que eu dizia que era o filme que mais aguardava que saísse no Clube de Vídeo mais perto de minha casa. A Helena, como boa cinéfila, aconselhou-me a vê-lo no cinema porque ela é uma “defensora das salas escuras e do grande ecran”. Eu podia ter-lhe argumentado que tinha em casa um desses “Home Cinema” XPTO, com um LCD de não sei quantas polegadas e muitas letras Hdi...mas esta mente perversa, quando leu “salas escuras e do grande ecran”, recuou 30 anos no tempo e lembrou-se, não do que via...mas do que fazia....”No escurinho do cinema....” . Ai Rita Lee, Rita Lee.... e o teu “Flagra”. De repente deu-me uma nostalgia....

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Banif

Vi o novo anúncio do Banif na televisão. É um rapaz,que numa paisagem um pouco desértica, vem montado num cavalo e que, "acreditando na ambição", se transforma em Centauro ...e lá vai ele todo contente e feliz porque "teve força de acreditar"(este é um resumo ...muito resumido).

Sou um grande admirador de um senhor que já morreu há mais de 20 anos (em 1975)e que se chamava Pitigrilli. Este senhor era um jornalista e romancista italiano que ainda viveu no século XIX(nasceu em 1893) mas que era muito adiantado para o seu tempo, no meu ponto de vista, obviamente. Li tudo o que dele foi publicado em Portugal e devo dizer que sempre gostei mais dele como cronista que como romancista. Na primeira metade do século XX, Pitigrilli, numa das suas crónicas escreveu sobre esse “novo” fenómeno de então, que era a publicidade e defeniu-a assim: “Publicidade é dizer a verdade tornando-a bela”. Sempre adorei esta frase. Tentava, na publicidade que via, lia ou ouvia, ver o quanto de verdade tinha a definição de Pitigrilli. E havia muitos casos que se aplicava. Quem não se lembra de frases como “ A sede que se deseja” para publicitar uma cerveja, ou “Tão natural como a sua sede” para uma água mineral...? Com o passar do tempo achei que cada vez mais a verdade, a que se referia Pitigrilli, foi deixando de existir na publicidade, mas em alguns casos se mantinha alguma beleza.

Tudo isto para dizer que o tal anúncio do Banif me deixou baralhado. Houve uma inversão, no meu ponto de vista. Deixou de haver a beleza (porque o anúncio nem é belo)...mas será que voltou verdade ? “Se é cliente do Banif, acredite, é uma Besta”...estou a exagerar, “ Abra conta no Banif e ambicione em transformar-se em Meia Besta”..afinal o Centauro é meio homem meio besta. Eu, por via das dúvidas, ainda não vou abrir conta no Banif.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pénis

Tenho vários endereços electrónicos, ou seja, várias caixas de mails. Há uns tempos começaram a chegar-me diariamente, e a todas elas, uma “publicidade” a uns medicamentos fantásticos que, segundo essa empresa, fariam crescer o tamanho do meu pénis. Fiquei de tal modo intrigado que fui perguntar a minha mulher se ela tinha feito algum comentário depreciativo ao “meu amigo”...depois de 25 anos de casado. Disse-me que não, achou mesmo que eu estava na brincadeira. O facto é que a publicidade não parava, o que me obrigou a tomar medidas drásticas: vou medir o “dito cujo”. Dito e feito. Depois de saber a medida, procurei na net alguma tabela que me indicasse se haveria razão para me preocupar. Encontrei uma tabela que me revelou que estava bem dentro da média, eu e uns 70% da população masculina mundial. Fiquei mais descansado e decidi escrever aos Srs. que me queriam converter na versão doméstica do John Holmes...”que não sabia como escolhiam os potenciais clientes...blá blá , que estava muito satisfeito com o tamanho do “meu amigo”...blá blá, e que por favor deixassem de me enviar mais publicidade desse tipo...etc. etc.” E deixaram mesmo. Bem....na verdade, não deixaram na totalidade. Agora recebo todos os dias, e pelas mesmas vias, publicidade ao Viagra. Ou seja, já estão descansados com o tamanho do meu pénis, mas, como não querem que me falte nada, não vá o diabo tecê-las, querem ter a certeza que “ele” funciona às mil maravilhas, afinal 48 anos sempre são 48 anos (apesar de ninguém me dar mais que 47). Vou ter que fazer mais umas perguntinhas a minha mulher antes de escrever-lhes novamente. Olho para “ meu amigo” e penso: “ nascemos juntos, crescemos juntos, vivemos juntos... não vais morrer primeiro que eu?”...por via das dúvidas vou esperar mais uns tempos para escrever-lhes ....

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Ego

Primeiro conto uma anedota, porque penso que mais facilmente entenderão o final da estória de que vos quero falar. Obviamente , todos os nomes e factos desta anedota são inventados.
O Freixo de Espada à Cinta Futebol Clube queria inaugurar o seu campo relvado e a nova bancada para 2000 pessoas. Lembraram-se de convidar o Benfica para abrilhantar a festa com um jogo de futebol amigável e, como o Freixo de Espada à Cinta Futebol Clube é a filial 37 do Benfica, este aceitou. No grande dia, o dia do Jogo, as bancadas estavam repletas de gente, havia um ambiente de festa. As equipas entraram em campo sob um nevoeiro tremendo. Lá escolheram o campo, cada equipa tomou o seu lugar no terreno mas, mesmo antes de começar a partida, o árbitro chamou os 2 capitães de equipa e disse-lhes :” O nevoeiro é tanto que só temos uma visibilidade de 2 metros, proponho que desçamos até às cabines e esperemos algum tempo até que o nevoeiro levante” . Assim fizeram as 2 equipas, enquanto nas bancadas a festa continuava. Confraternizavam os jogadores das 2 equipas (não é todos os dias que o Benfica vai jogar a Freixo de Espada à Cinta) quando alguém dá por falta do Arnaldo. O Arnaldo era o Guarda Redes do Freixo Futebol Clube. Onde está, onde andará...até que alguém perguntou se terão dito ao Arnaldo que o jogo nem iria começar. Tozé, o capitão da equipa, sobe ao relvado e dirige-se à sua baliza. Lá estava o Arnaldo debaixo dos postes em atitude felina. O Tozé diz-lhe: “Ó Arnaldo desculpa lá, estamos nas cabines há 15 minutos, o jogo nem começou por causa do nevoeiro e o pessoal não te avisou”. O Arnaldo só lhe repondeu: “ Eu bem que estava a estranhar o massacre que estávamos a dar ao Benfica... ainda não tinha feito nenhuma defesa”.

No início da década de 80, trabalhava eu na Shell, fui, como todos os dias, apanhar o metro na Estação do Marquês de Pombal. Estava um dia de chuva, feio, mas era um dia como outro qualquer. Estava eu na plataforma à espera do metro e reparei que toda a gente que passava olhava para mim. Sentia-me lindo. Havia naquela altura um anúncio na TV, a um sabonete, com a voz da Ana Zanati, que ela dizia “quando vc se sente bela, os outra acham-na ainda mais bela”..e eu lembrei-me que naquela manhã tinha gostado do que tinha visto ao espelho, por isso, e fazendo fé nas palavras da Zanati, o pessoal estaria todo a achar-me ainda mais belo. Cheguei a temer que o meu ego, de tanto crescer...rebentasse. Estávamos nisto quando chega o metro e eu para entrar na carruagem tive que fechar o chapéu de chuva. Tinha estado 10 minutos na estação do metro de chapéu de chuva aberto. Não admira que toda a gente olhasse para mim, mas não houve 1 pessoa que se chegasse perto e me tivesse avisado de tal anormalidade...provavelmente com medo, um tipo com chapéu de chuva no metro só podia ter fugido do Júlio de Matos.

Ontem, vou a entrar num Centro Comercial, chuvia, e um velhote entra no Centro de chapéu de chuva aberto. Eu dirigo-me ao velhote e alerto-o para a situação, facto que ele me agradeceu muito. Depois começei a pensar ...e acho que não o devia ter feito.

O Arnaldo sentiu-se o Vitor Baía de Freixo de Espada à Cinta, durante 10 minutos.
Eu, senti-me o Richard Gere de Carcavelos, durante 10 minutos.
...e não dei a hipótese ao velhote de se sentir o Robert Redford de Oeiras...nem que fosse durante 5 minutos. Isto não se faz...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Gadget

O meu filho veio mostrar-me um destes novos “Gadgets” que faz tudo; tem GPS, tem camera fotográfica, tem telemovel, armazena não sei quantos GB de música...só lhe falta falar, e casa de banho privativa... Apeteceu-me fazer o mesmo comentário que o Borges em Nova Yorque.
O Borges era um vendedor, à moda antiga, que vendia na província, visitava os armazenistas e as mercearias, ainda não havia Cash & Carries nem Hipermercados. O Borges tinha a 4ª classe, mas tinha também o dom da palavra. Em todas as reuniões de vendas lá estava todo o pessoal a picar o Borges para que “botasse” discurso, e ele não se fazia rogado.Discursava.
Um ano ( por volta de 1990), uma das viagens incentivo que demos à Força de Vendas foi a Nova Yorque, e claro que um dos participantes era o Borges. Eramos uns 30, entre Marketing, Vendas e Direcção da Empresa e fomos fazer um “tour” pela cidade. Parámos no World Trade Center, e saímos mesmo na entrada das Torres Gémeas. Convém dizer que o Borges é daqueles que não gostava de estar calado, gostava de emitir sempre a sua opinião. Quando saímos do autocarro de turismo, deparámo-nos com aquele espectáculo das 2 Torres. Só se viam os pescoços a subir a subir até alcançar o topo daqueles 2 edifícios magníficos...num silêncio de admiração fantástico. Nesse momento ouve-se o Borges a dizer...” O que é a natureza!!!!”
Lembrei-me do velho Borges quando meu filho me mostrou aquele Gadget.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Computadores

É cada vez maior a nossa dependência em relação aos computadores. Hoje não pude alugar um DVD num clube de vídeo “porque não temos computador” disse-me o funcionário. Ele tinha computador, que eu bem vi, só que não funcionava... Quem nunca foi prejudicado pelo facto de um qualquer computador se recusar a trabalhar, ou um sistema “ ter ido abaixo”? Todos. Até na empresa onde trabalho, quando o sistema vai “abaixo” é considerado uma catástrofe. O Joaquim da Luz é um grande amigo por exclência e um pintor por vocação, ou o contrário...um amigo por vocação e um pintor por excelência e vive no Funchal. No início da década de 90 eu ía muitas vezes à Madeira (afinal sou madeirense)e, claro, encontrava-me sempre com o Joaquim. Eu ficava hospedado no Madeira Carlton ( hoje Carlton Pestana ) para ficar mais perto da acção...o Salsa Latina, As Vespas, Nº2, o Farol, etc etc. Resta lembrar que os telemóveis não eram de uso tão comum como são hoje, digamos que haveria 1 telemóvel para cada 10 habitantes quando hoje será 10 para 10...ou perto. Numa dessas vezes que estive na Madeira (chegava sempre à 5ª feira de tarde e regresava a Lisboa no Domingo depois do almoço) o Joaquim precisou de falar comigo no domingo de manhã, já eu tinha feito o chek-out do hotel mas, como ele não sabia, telefonou para a recepção e pediu para falar com o Sr. Duarte Nuno (eu). Disseram-lhe “só um momento”.... Passado esse momento, o mesmo funcionário informava o Joaquim que “o Sr. Duarte Nuno não está no computador” , ao que o Joaquim respondeu, com aquele ar de quem está sempre na lua “eu sei, ele está num quarto”. Ah gande Quim....