quarta-feira, 14 de maio de 2008

Dezembro

Uma das minhas grandes satisfações em criança (penso que de todas as crianças) era quando minha tia “armava” o presépio e a árvore de Natal. Ainda hoje adoro a quadra natalícia. Minha tia tinha um jeito especial para a decoração ( e não só...como sabem ) e eu adorava ajudá-la. Todos os anos tentávamos que o presépio ficasse diferente, apesar de serem sempre as mesmas figuras, e a capacidade criativa de minha tia vinha ao de cima, para além de querer que eu participasse da “construção”. Sentia-me verdadeiramente feliz por ajudar e por saber que o Natal estava perto.


Mas quando chegava aquela altura, havia uma coisa que, pelo menos por um dia, estragava a minha felicidade: a ida ao fotógrafo. Durante Dezembro, minha tia “aperaltava-me” a seu gosto para que fossemos ao Amândio Fotógrafo tirar uns retratos “artísticos”... e vocês já “conhecem” minha tia. Felizmente, o Amândio Fotógrafo era um fantástico fotógrafo e não se nota na foto, mas estou de boina (como a boina era escura, o fundo escuro disfarça um pouco). Pois é, tive que sair de casa com boina, entrar no fotógrafo com boina e ser fotografado...com boina. Como devem calcular, fiquei com um ódio a tudo o que era para colocar na cabeça, de tal forma que só consigo usar os bonés da praia.

sábado, 10 de maio de 2008

Frade

No que diz respeito às humilhações que sofri na minha vida, minha tia esteve quase sempre ligada a elas. É óbvio que nunca o fez por mal, antes pelo contrário, mas a vontade de ser diferente e de que eu fosse diferente, falava mais alto. Já vos contei a humilhação do índio, que afinal mais parecia uma “indiazinha”, e hoje falarei sobre a minha primeira comunhão, ou seja, mais uma humilhação.

Estava eu na 1ª classe, tinha 6 anos e decorria o ano de 1965. Depois de uns seis meses de aulas de catecismo com a Dª Madalena, fiquei preparadíssimo para a minha primeira comunhão. Posso mesmo afirmar que era um dos mais bem preparados para receber Jesus. A nossa classe teria uns 30 alunos e todos iríamos receber o Santíssimo Sacramento. Convém não esquecer que éramos todos rapazes. Naquela altura a indumentária habitual para estes casos era umas calças brancas, uma camisa branca ( de preferência de seda) com um laço de setim numa das mangas. Era o habitual para todos os meus 29 companheiros de aula que, a partir daquele dia, nos “entregaríamos” a Deus. Para mim, minha tia tinha outros planos. Aquela indumentária era demasiado popular, muito “corriqueira”, o Nuno não podia ir como os outros, tinha que ir diferente. “Mas diferente, como?” perguntava eu ingenuamente. “Já sei, vais de Frade” responde minha tia. Até me ri, com aquilo que eu julgava ser a piada do século . Só me faltou chorar, quando percebi que afinal não era piada. E assim fui eu, naquele dia daquela Semana Santa a caminho da Igreja de S. Pedro ...vestido de frade (as sadálias eram, por si só, uma afronta), para fazer a minha primeira comunhão com o padre Rafael. Ainda me lembro da cara que fizeram os outros 29 companheiros quando me viram chegar naquela “figura”. Na sua ignorância, uns perguntavam-me se eu ia mudar para o seminário, outros se era eu que ia dar a 1ª comunhão... eu limitava-me a dizer que não a tudo, a olhar para minha tia e a pensar que o tal Jesus estava a entrar com o pé esquerdo na minha vida. Tive que suportar as bocas de “Eh pá, o Carnaval já passou, agora estamos na Páscoa” e “ficas bem de saia comprida”...enfim, uma humilhação perante os meus 29 companheiros e familiares.

Depois daquele pesadelo, pensava eu que de humilhações já estava livre. Como estava enganado. Não bastava ser humilhado perante aquelas 100 pessoas naquele dia na Igreja de S. Pedro. Não. Minha tia tinha outros planos para mim. Que tal uma humilhação perante umas 50 mil pessoas? Se bem pensou, mais rápido o fez. Vinha aí a procissão do Corpo de Deus, a mais famosa procissão do Funchal. Quem vai sair na Procissão? O Nuno, claro, vestido de frade. Saí da Sé, percorri meio Funchal apinhado de gente e voltei à Sé. Fui “admirado” por mais de 50 mil pessoas. Penso que a minha decisão de ficar a viver em Lisboa tem algo a ver com o facto de pensar que quando passeasse no Funchal, haveria sempre alguém que diria a outrém, baixinho “aquele foi o miudo que saiu há uns anos na procissão do corpo de Deus vestido de Frade... coitado“.

De uma coisa estou seguro, foi aquela humilhação que decidiu que a minha primeira comunhão fosse também a última.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Distinções

Este blogg foi distinguido pela Su do Marakokas com a “Campanha da Amizade”. Agradeço tamanha distinção vindo de quem vem. A Su sabe do que fala quando se trata de amizade. Um beijo tarado, do tamanho do Oceano que nos separa.

Foi também alvo de distinção com “Revolução Colorida” pelo amigo Eduardo – Baby_Boy_Swim, que como eu, vive a experiência da emigração ( se bem que esteja a acabar ) e que pode explicar a razão desta honrosa lembrança: A Solidariedade de emigrante...para emigrante. Não há dúvida que a distinção faz lembrar a nossa querida Ilha da Madeira por alturas da festa da flor. Para o Eduardo, um abraço de agradecimento