terça-feira, 11 de março de 2008

Paixão eterna

Teria uns 7 anos quando fiz a minha primeira promessa de paixão eterna. Ela chamava-se Helena, e foi num quarto da Pensão Fernandes no Porto Moniz. Eu vivia com meus tios, ela com os pais, e fomos ali passar um fim-de-semana para que os nossos encarregados de educação pudessem pescar e as senhoras pudessem fazer tricô. Tivemos direito a um quarto só para nós, com duas camas, mas só para nós e parecíamos um casal de verdade. Queria que adormecêssemos de mão dada, mas ela necessitava saber se eu estava com boas intenções, e eu claro, prometi-lhe casamento, filhos (penso que chegámos a discutir o futuro dos nossos netos) e obviamente prometi-lhe paixão eterna. Num quarto da Pensão Fernandes, a paixão eterna durou uma noite, mas dormimos de mão dada. Uns 3 ou 4 anos mais tarde voltei a fazer a mesma promessa. Ela era minha vizinha, chamava-se Maria João e eu queria o meu primeiro beijo, à séria...à filme, à foto novela da Corin Tellado, ou seja ...na boca. Havia um anexo na minha casa onde uma das empregadas tratava da roupa, levei a Mª. João para lá e, obviamente, prometi-lhe paixão eterna. Naquele anexo, a paixão eterna durou 30 segundos mas tive o meu primeiro beijo. Era muito difícil termos namoradas. Eu estudava no Externato Nun’ Alvares (mais conhecido pelo Caroço) que era só para rapazes, e a 100 metros ficava o Colégio Apresentação de Maria só para raparigas. Bem que as víamos passar com os pais...mas pouco mais podíamos fazer.
Dá-se o 25 de Abril, e foi a revolução, não a dos cravos, a dos corações. Em 1974 vou para o antigo 6ª ano do Liceu e... eram aulas mistas. Era à “fartazana”. Nunca mais prometi paixões eternas, mas aprendi que é necessário prometer qualquer coisa a uma rapariga/mulher: seja amor, felicidade, fidelidade, divertimento, prazer.... só mais tarde descobri que carros e jóias também servem. Enfim caprichos. Em 77 venho para Lisboa para a faculdade e lembro-me de ter chegado atrasado à minha primeira aula. Bati à porta e entrei...entrei no paraíso. Era uma turma com 28 raparigas e 2 rapazes...eu era um deles. Acho que só de ver ...tive um a congestão. Foram tempos loucos. E lá fui eu de promessa em promessa até que houve uma, a quem lhe prometi o que prometia a todas as outras, mas que passado uns tempos me pediu que essas promessas passassem para um papel e fossem assinadas numa qualquer conservatória do Registo Civil de Almada. E eu assinei. Foi há mais de 26 anos, e continuo a respeitar essas promessas.
Tudo isto me faz lembrar o tal meu amigo que dizia “ A grande diferença entre um capricho e uma paixão eterna, é que o capricho dura mais tempo” ...no meu caso dura há 26 anos, mas já há o outro amigo que já me vai avisando: cuidado, dura enquanto dura dura...

16 comentários:

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Nuno,

de todos os excelentes textos que escreveste aqui no blogue, este é o que colhe a minha preferência! Está simplesmente FENOMENAL!!!
É uma experiência de vida enriquecedora, e que se aplica um pouco a cada um de nós (embora eu por enquanto tenha escapado ao cumprimento de promessas numa conservatória de registo civil :) ).

Parabéns! Este escrito sem dúvida que saiu directamente do coração!

Nuno disse...

Jorge,

Obrigado, é sempre bom saber que pelo menos um dos 6 leitores do blogg gosta de alguns textos.
Tu, lá tens escapado... porque tens tido juízo e prometes pouco e se tiveres que prometer, promete a paixão eterna. No dia que prometeres um pouquinho mais, ou seja, um capricho, ela vai querer isso tudo em papel assinado.

Um Abração

Blueminerva disse...

Sabes Nuno,
A minha mãe começou a namorar o meu pai com 14 anos. Ele tinha 17. Ainda hoje estão casados e adoram-se. Quis seguir o exemplo. Nunca fui muito namoradeira, porque preferi esperar pelo tal. Alimentava o sonho de ter só uma pessoa prá vida toda. Ele chegou, tinha eu 19 anos. O sonho... durou 2 anos. Foi a maior decepção da minha vida. Era muito ingénua e sonhadora e a queda foi brutal. Continuo a acreditar que é possível pertencer a alguém por uma vida inteira mas é aposto que dá um trabalhão dos diabos.
Um abraço

Ah... a par do Jorge, também eu achei o texto fantástico.

Nuno disse...

bluminerva,
Tens o exemplo em casa, pergunta-lhes se dá um trabalhão dos diabos. A mim não me dá trabalho nenhum. No dia que me der trabalho, algo vai mal no reino dos deuses. Acho que deves continuar a acreditar. Eu sei que " Não existe o esquecimento total: as pegadas impressas na alma são indestrutíveis" ... mas o amor e a felicidade merecem sempre uma segunda oportunidade, tu mereces uma segunda oportunidade...
Fico contente que tenhas gostado do texto, agora já posso dizer "gostaram" sem estar a mentir.
Um Abraço

Su disse...

gostei de ler.te

recuei no tempo....eu andava no colegio.....e depois no liceu.....

ai a vida passa......e passei.a agora num filme colorido na minha cabeça....

gostei da tua sinceridae e lucidez na escrita ...que se sente...

jocas maradas..sempre

Nuno disse...

Su,

Pois é, é isto a vida passada. São momentos, que por algum motivo não esqueçemos... Eu não quero esquecê-los.

Ainda bem que gostaste.

Beijocas

Blueminerva disse...

Caro Nuno,
Falei em trabalho, no sentido de se reinventar e de estimular a relação, para que se evite cair em monotonia... especialmente depois de nascer os filhotes. É que a monotonia, é uma machadada em qualquer relação... digo eu.
Um abraço

Nuno disse...

Blueminerva,

Sim, por esse ponto de vista, podes ter razão...a monotonia deriva da rotina, que tem que ser evitada com muita criatividade e cedências de parte a parte... com ou sem filhos.

Abraço

Nuno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávio disse...

Viva! E então como está Berlim? É a minha cidade preferida e já há mais de um ano que não ponho lá os pés, infelizmente. É a capital cultural da Europa. Se lá fores, recomendo vivamente o espectáculo do Homem Azul: o bilhete é carote, mas vale bem a pena. Também queria ver o espectáculo da Dança do Vampiro, mas não houve tempo da última vez.

Su disse...

sff ao blog do ninja.............jáaaaaaaaaa

MMV disse...

nada é eterno?!

Deixa-me que me diga que adoro ler os seus textos...

O amor pode não ser eterno, mas tem que parecer nos corações que são eternos!

Nuno disse...

Bem aparecido BBS,

O amor pode e deve ser eterno. No que não acredito é nas paixões eternas. O fundamental é o que dizia "o meu amigo": Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível.
Gosto que gostes de ler-me.

Dois Abraços, um para ti, outra para a nossa ilha

Sérgio Lopes disse...

Olá Nuno.

Gostaria de falar contigo, pelo que se possível, aqui fica o meu e-mail, aguardando o teu contacto.

sergioaclopes@clix.pt

Obrigado.

Sérgio Lopes - Cineasia

Nuno disse...

Sérgio,

Já te enviei uma mensagem para o e.mail que deixaste.

Abraço

Anónimo disse...

Olá Nuno!
Adoro o texto "Paixão eterna".
Muito verdadeiro... acho que nunca acreditei em paixão eterna, talvez possa ser renovada. Eu mesmo, voltei a me apaixonar pela minha ex-esposa, que tanto procura essa paixão eterna... não sei se ela encontra-rá em mim essa paixão. Hoje nos vemos ocasionalmente e todas as vezes nos amamos, mas ela não quer nada a mais que isso, pelo menos não no momento... Bem, estou eu a desabafar aqui... um grande abraço! Anderson