sábado, 22 de março de 2008

Amigos e Dicas

Primeiro vou-vos contar uma história, que o tal meu amigo que era jornalista e escritor escreveu, e que tem a ver com a importância de certos amigos. Provavelmente já toda a gente a conhece, mas mesmo assim contarei.
Numa pequena rua de Roma, onde existiam apenas restaurantes, o primeiro restaurante dessa rua, e para publicitar a sua casa, colocou um cartaz onde dizia “ O melhor Restaurante de Roma”. Claro que o segundo restaurante não fez a coisa por menos e colocou um cartaz dizendo “O melhor Restaurante de Itália”. O terceiro, já com a mania das grandezas, e porque não queria ser ultrapassado colocou no seu cartaz “O melhor Restaurante da Europa”. Obviamente que o quarto restaurante se mandou para fora de pé, e megalomanamente colocou num cartaz “O melhor Restaurante do Mundo”. Tudo estaria bem se não houvesse um quinto restaurante que ficava no fim da rua, e que por via de toda esta publicidade, começou a perder clientela. Mas o dono tinha um amigo, que trabalhava numa coisa que se chamava Marketing e Publicidade, e decidiu pedir-lhe ajuda. Chamou-o explicou-lhe o problema, disse-lhe que tinha pensado colocar um cartaz que diria que o seu restaurante era o melhor restaurante do Universo, mas que achava a ideia um pouco idiota e que por isso estava desesperado, provavelmente teria que fechar o estabelecimento porque não sabia o que fazer. O amigo publicitário acalmou-o e disse que o problema era de fácil solução. Bastaria colocar um cartaz com o seguinte “ Este é o melhor Restaurante desta Rua”.

Por volta dos meus 17 anos, tinha um amigo cujo pai era fotógrafo, desses que também fazem casamentos e baptizados e que nos dava as tais “dicas” importantes. Dizia-nos (eramos 3 ) esse nosso amigo: amanhã há um casamento com 170 pessoas (tinha que ter mais que 120) na igreja de S.Pedro e o copo de água no Jardim do Sol (já não me lembro dos nomes dos restaurantes e dos hoteis). Nós os três vestíamos os nossos únicos fatos colocavamos gravata e lá íamos para a igreja. Tínhamos que ir à igreja para ouvirmos os nomes dos noivos quando o padre dizia, e eles repetiam os votos de amor eterno: Eu, João Paulo aceito..... e eu Ana Cristina blá blá. O trabalho da igreja estava feito. Depois íamos no carro do pai do Ivo (que já tinha carta) seguindo o cortejo, buzinando, até ao local do comes e bebes que era o nosso objectivo principal....comer e beber à borla. Misturávamo-nos com o pessoal, a uns diziamos que eramos amigos do noivo ( ou seja do João Paulo) a outros que eramos primos da Ana Cristina ( a noiva não podia ter amigos)...e no final até dançámos com as verdadeiras amigas do noivo e primas da noiva. Foi um casamento espectacular. Ouve segunda dica, e lá fizemos tudo como sempre...igreja, cortejo e chegámos ao sítio do comes e bebes. Já estávamos alegres quando fomos confrontados com o noiva e a noiva em simultâneo...e claro fomos desmascarados como penetras. O noivo, como não queria problemas no dia mais feliz da sua vida, foi buscar uma garrafa de whisky “Vat 69” e disse-nos para irmos celebrar para outro sítio. Ainda lhe dissemos: um bom Vat 69 pra vcs também...logo à noite, e viemos embora. Não comemos nem dançámos...mas apanhámos uma grande bezana. A terceira e última vez...tudo igual, dica, igreja cortejo...só que foram tirar fotos para o Jardim do Museu das Cruzes e aquilo nunca mais acabava. Nós queríamos era beber e comer. Lembro-me que a festa era num hotel, já não sei qual. Entrámos havia uns empregados a servir umas bebidas foleiras, tipo espumante e sumo de laranja...e quando demos por nós estão a chamar para o jantar. Ao entrarmos para a sala, um senhor de laço pergunta-nos o nome para nos indicar a mesa. Era jantar com lugares marcados. A mesa? Perguntámos nós. Então o João Paulo (?) não lhe disse que nós não vínhamos jantar, só cá viemos dar-lhe um abraço e desejar-lhe felicidades, é que ainda temos outro casamento, temos que ir. E fomos, para a Concha comer um picadinho e beber uma imperial.

Outro amigo e outra dica era-nos dada por um rapaz que trabalhava na recepção de um hotel: hoje chega um grupo 6 suecas. Eu com 17 anos e o Toni com 24 lá nos vestíamos à pipi e íamos para a recepção do dito hotel esperar pelas suecas para servir-lhes de “guias e intérpretes”. Confesso que só fui uma vez. O Toni como era veterano, e nisto a antiguidade é um posto...escolhia primeiro. Escolheu e calhou-me a amiga que era sempre menos bonita. A dele era efectivamente sueca, a minha era checoslovaca que vivia na Suécia. Fomos jantar, discoteca...e claro, fomos para o hotel. Era a minha primeira internacionalização. Resumindo....fui completamente trucidado por aquele vulcão de 25 anos vindo do frio. Em linguagem futebolística podia dizer que já perdia por 5 – 0 ao intervalo. Rapidamente verifiquei que aquela checoslovaca tinha muito mais de vaca que de checa.
Estes são alguns exemplos da verdadeira utilidade dos amigos: dar dicas. Há quem diga que os amigos verdadeiros são aqueles que nas subscrições assinam em primeiro lugar para oferecer uma coroa de flores. Eu prefiro os outros os que me dão dicas em vez de coroas de flores

15 comentários:

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Saiste-me cá num artista, eh, eh, eh! A dos "penetras" no casamento já conhecia, pois os meus colegas da tua geração fartam-se de contar histórias do género. Hoje em dia é um pedaço mais complicado, pois regra geral os casamentos têm lugares marcados.
Agora essa dos guias à espera na recepção...eh, eh, eh! Pensava que só havia um que fazia isso, que era o meu tio mais velho! Mas de facto, estou a ver que são todos uns bons espertalhões!!!
Irra, e ainda falam de mim! Caramba, eu sou um gatinho manso ao vosso pé!

Excelente história, Nuno! Gosto bastante da tua escrita correcta, perceptível e descomplexada!

Grande abraço e continuação do excelente trabalho aqui evidenciado!!!

Su disse...

mas que menino sabido.......

ops tb conheço bem as historias dos penetras nos casamentos e as dicas nos hoteis....das nordicas que chegavam sempre disponiveis.......afinal com dois irmaos e ficava sabendo de tudo ..eheheehe......

malandreco, quem diria:)))))

gostei de ler.te

jocas maradas...sempre

Nuno disse...

Jorge e Su,

Como vcs podem calcular estamos a falar de uma época em que pouco havia que fazer, em que ninguém inventava a roda, já estava tudo inventado. No caso do amigo,filho do fotógrafo, não éramos só nós...éramos às dezenas, a nós calhou-nos 3 vezes, porque ele dava a informação a todos os seus amigos, só que não podíamos ir todos... havia quase uma escala. Daí ser uma estória conhecida por muita rapaziada da minha geração, que como eu, foi penetra.
No caso das escandinavas, nós tínhamos a sorte de ter a dica, mas a concorrência era enorme, chegávamos a estar no hall do hotel uns 20 tipos a querer ser "guia" das raparigas. Elas iam à Madeira à procura de "guias" ...essa era a realidade. O meu amigo Toni de tanto ser "guia" casou com uma sueca e vive há 30 anos na Suécia ( vai no 2º casamento ) é feliz e vai todos os anos à Madeira...é um tipo fantástico e está muito bem na vida. Eu, como vos digo na estória, foi a única vez que "servi de guia", e nos dias seguintes perdi os jogos todos por falta de comparência. Continuo a gostar muito da mulher portuguesa...que posso fazer ? Com gostos não se discute...

Beijos e abraços

Blueminerva disse...

E eu a pensar que no teu tempo brincavam com a bola e o pião... afinal era mais sueca que outra coisa. Que ingenuidade a minha.
Um abraço

Nuno disse...

Naquele noite, a da minha primeira internacionalização, e às mãos da vaca checa, foi pião e bola... se fui...

Abraço

cs disse...

Ganda artista menino Nuno. lollll


adorei ler. Muito Bom.

:))

Nuno disse...

C.S.

Gostei que tivesses gostado. Aparece, nem que seja para tomarmos uma pinguinha de chá.
Eu fui ver o teu.... e adorei

Beijos

MMV disse...

Eu já fiz do amigo Toni mas em outras situações!

Dos casamentos penso que já não se faz... Quanto ao dos hóteis isso ainda existe...

Era o "Nuninho Madeirense"...

eheheh

Ando deliciado com as suas histórias, mal posso esperar para ler a próxima!

Nuno disse...

BBS,
Sim os penetras de casamentos acabaram, porque fomos muitos e começou a ser falado e porque agora é tudo com lugar marcado. Quanto às tipas que vão à Madeira à procura de "Guias" já levam marcados pela internet...mas continua a haver os "profissionais" que são uma espécie de marialvas que falam idiomas e andam em carros desportivos. Mudam-se os tempos, mudam-se as tacticas...

Abração

SP disse...

Muito interessante o teu sítio!! Um abraço...

Nuno disse...

Obrigado. Espreitarei o teu.

Um Abraço

osátiro disse...

Isto mete o Saramago num bolso...apesar de eu não gramar mto ogajo.

Nuno disse...

osátiro ,

Depois passa no escritório para receberes o pagamento ( eu pago-lhe para ele dizer estas coisas).
Eu também não sou um admirador de Saramago, mas não tenho um bolso ssim tão grande para que ele caiba lá dentro.

Aparece sempre, e ainda bem que gostaste.

Um Abraço

Pink disse...

Graças aos posts d Su...conheci, e em boa hora este blog.
Fixe, é bué da'fixe!
Parabéns.
Se me for permitido, voltarei aqui mais vezes.
Até!

Nuno disse...

Pink,

Não só é permitido, como é um prazer ter-te por cá...e é à borla.
Obrigado, por apareceres

Beijo.. a ti e à Su..